História e Geografia
História da Nukini
Ao longo do século XIX, os Nukini, que mais tarde seriam os Remo, situavam-se a leste dos Ucayali. Também perto das colinas de Canchahuaya.
No início do século XX, há menções aos Remo na região do alto Juruá Mirim, no alto Rio Tapiche.

No Peru, eram utilizados como forma de pagamento de dívidas de seringueiros. Sem demora, os Nukini fugiram do Peru e regressaram à sua aldeia na plantação de borracha de Gilbratar, no Brasil.
Aquela foi uma época de grande conflito para os Nukini. A sua “amizade” com os seringueiros, para quem eram apenas mão-de-obra num território perigoso e desconhecido. A causa do conflito era que os seringueiros queriam “civilizar” os Nukini, que não aceitavam totalmente a cultura brasileira ou peruana (dependendo do lado da fronteira em que se encontravam). Uma cultura extrativista focada nos valores económicos.
Mesmo até meados do século XX, os Nukini continuaram localizados na região do Rio Môa, como se pode ler nos relatos de vários viajantes. Oppenheim, por exemplo, refere-se a eles como estando localizados na fronteira com o Peru, na bacia de um afluente do alto rio Moa:

Rio Moa
Encontrámos um grupo de cerca de dez famílias desta tribo, na zona fronteiriça com o Peru, nas nascentes do Ramon, um afluente do Rio Môa. Há alguns anos, estes índios faziam parte de uma grande tribo que habitava um outro afluente do Rio Môa, a que chamamos Paraná de la República. (Oppenheim, 1936).
Os Nukini sobreviveram às febres epidémicas e também à expansão da exploração da borracha. Nas primeiras décadas do século XX, foram incorporados na indústria da borracha e permanecem na região do Rio Môa até aos dias de hoje. Trabalharam com seringueiros durante décadas, recebendo o reconhecimento oficial das suas terras apenas no final da década de 1970 e permanecendo na área mesmo após o fim da exploração da borracha.
Foi em 1977 que se iniciou oficialmente a demarcação da Terra Indígena Nukini. Nessa altura, com base num relatório do antropólogo Delvair Montagner, a sua área foi estimada em 23.000 hectares.
Posteriormente, em 1984, um grupo coordenado pelo antropólogo José Carlos Levinho foi designado para realizar um estudo do território com o objectivo de definir a “Área Indígena”. No seu relatório, apresentou uma área proposta para a Terra Indígena Nukini de aproximadamente 30.900 hectares.
Desde então, o seu território foi demarcado e protegido. Entretanto, a partir de 2000, os Nukini começaram a questionar os limites norte e oeste das suas terras, reivindicando uma parte do Parque Nacional Sierra del Divisor.

O Nukini e o Remo
Será que os “Nucuinis” do Paraná da República e do Alto Igarapé Ramon não seriam da mesma tribo dos índios assentados nas margens do Jaquirana? Ou será outra tribo encontrada por antigos exploradores, chamada “Rhemus”, agora extinta ou absorvida pelos actuais “Nucuinis”?)
- Braulino de Carvalho, da Comissão de Limites, encontrou algumas famílias de índios Remo na margem direita do Rio Jaquirana que se auto-intitulavam “Nucuinis”, o que leva os antropólogos a crer que são da mesma tribo, a tribo Nukini, que adoptou diferentes nomes ao longo da história, quer como auto-designação, quer porque foi essa a alcunha que lhes foi dada durante algum tempo pelos seringueiros.
Geografia
A Terra Indígena Nukini localiza-se no Acre, extremo sudoeste da Amazónia brasileira, e faz parte de um dos mais importantes mosaicos de áreas protegidas do Brasil.
A maioria das famílias Nukini distribui-se ao longo dos igarapés Timbaúba, Meia Dúzia, República, Capanawa e na margem esquerda do Rio Môa.


A Choca do Acre, uma espécie rara de ave descoberta em 2004, vive no Parque Nacional da Serra do Divisor.
O estado partilha fronteiras internacionais com o Peru e a Bolívia, e fronteiras nacionais com os estados do Amazonas e Rondônia. No extremo oeste encontra-se o ponto mais alto do estado, onde a estrutura do relevo é modificada pela presença da Serra do Divisor, um braço da Serra de Contamana peruana, com uma altitude máxima de 600 m.
O valor de biodiversidade do Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD) está entre os mais elevados já encontrados na Amazónia brasileira. Esta diversidade biológica tem sido utilizada e conservada desde há séculos pela população residente na área, incluindo os Nukini, cujas terras albergam grande parte da biodiversidade da região.
Os solos do Acre albergam vegetação natural composta por floresta tropical densa e floresta tropical aberta, caracterizadas pela sua heterogeneidade florística. O clima é do tipo equatorial quente e húmido, marcado por temperaturas elevadas, elevados níveis de precipitação e elevada humidade relativa. A hidrografia do Acre é formada pelas bacias do Juruá e do Purus, afluentes da margem direita do Rio Solimões.

A bacia do Rio Juruá abrange aproximadamente 250.000 km². A extensão total do Rio Juruá é de 3.280 km, com um desnível de 410 metros. Nasce no Peru a 453 m. altitude elevada com o nome de Paxiúba, para depois se juntar ao Rio Salambô. A partir daí, passa a chamar-se Juruá, que atravessa o noroeste do estado do Acre do Sul em direção ao norte, depois entra no estado do Amazonas e, finalmente, desagua no Rio Solimões.
Esta região amazónica possui uma diversidade ambiental considerada uma das mais importantes da Amazónia brasileira, pelo que é de suma importância que os povos indígenas, que têm como princípios mais básicos a conservação ambiental, consigam defender as suas terras de madeireiros, fazendeiros e empresas extrativistas com prioridades económicas e comerciais.